Veja os benefícios de cultivar o próprio alimento e aprenda a fazer a sua horta mesmo em espaços reduzidos.

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Já pensou colher seus próprios temperos, frutas e legumes? Ter uma pequena horta em casa ou na vizinhança não só traz alimentos frescos e saudáveis para a mesa, como também pode significar uma boa economia nas compras do mês.  Ela pode ser comunitária, quando cultivada em espaços coletivos, ou doméstica, quando plantada em casas ou até mesmo em apartamentos. 

Esses espaços são a prova de que o cultivo de alimentos não é algo restrito às áreas rurais, mostrando que é possível produzir em pequenos ou grandes espaços horizontais, ou até verticalmente, utilizando garrafas pet, vasos e outros materiais. 

Quer saber como começar e se inspirar em ideias de hortas urbanas? Veja nossas dicas.

Benefícios da horta em casa ou no bairro

Os benefícios de ter uma horta em casa vão muito além do fácil acesso a alimentos frescos. Cultivar o próprio alimento é uma forma de cuidar da saúde física e mental, de fazer economia e de proteger o meio ambiente. 

Redução da pegada de carbono

Segundo o estudo "Estimativa de emissões de gases de efeito estufa dos sistemas alimentares no Brasil", feito pelo Observatório do Clima, os produtos alimentícios chegam a representar cerca de 30% de toda a atividade de transporte rodoviário de cargas, responsável por uma significativa quantidade de emissões de gases de efeito estufa.

Assim, ao consumirmos alimentos de regiões distantes, estamos aumentando a nossa pegada de carbono. O cultivo de hortas urbanas, por sua vez, ajuda a criar um sistema alimentar mais sustentável. Além disso, elas trazem mais verde para as cidades, atenuando o calor e criando um espaço mais agradável para viver.

Menos desperdício de alimentos

O Brasil está entre os 10 países que mais desperdiçam comida, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). As hortas caseiras oferecem uma solução prática para esse problema, permitindo que as pessoas colham apenas o necessário para o consumo imediato, evitando excessos e desperdícios. Além disso, essa prática proporciona acesso a alimentos frescos e mais duráveis.

Saúde e nutrição

O relatório do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mostra que 25% dos alimentos de origem vegetal consumidos no Brasil contêm resíduos de agrotóxicos acima dos níveis permitidos ou não autorizados. Ter uma horta urbana permite um controle direto sobre a qualidade dos alimentos consumidos, incentivando o cultivo de alimentos frescos e livres de pesticidas. Isso contribui para uma dieta mais saudável e equilibrada, com menor exposição a substâncias químicas potencialmente nocivas.

Economia e autossuficiência

As hortas domésticas são uma excelente maneira de economizar, pois reduzem a necessidade de comprar certos alimentos, como ervas, vegetais e temperos frescos, que costumam estragar rapidamente. Elas proporcionam economia e incentivam a autossuficiência alimentar, diminuindo a dependência de grandes redes de fornecimento.

Além disso, as hortas urbanas são fonte de renda para muitas famílias. Em razão de sua importância, foi  sancionada este ano a Lei 14.935/2024, que cria o Plano Nacional de Agricultura Urbana e define políticas públicas para a agricultura nas cidades. A nova legislação pretende incentivar os agricultores que têm na atividade seu trabalho e sua renda, mas também aqueles que plantam apenas para consumo próprio.   

Bem-estar psicológico

O contato com a terra e o cuidado com uma horta têm impactos positivos na saúde mental. Cuidar das plantas alivia o estresse e proporciona uma sensação de satisfação ao colher os frutos do próprio trabalho. Além disso, a atividade pode se tornar um momento de interação familiar, com amigos e pessoas da comunidade, proporcionando conexão e muito aprendizado, especialmente para as crianças, que podem desenvolver uma relação mais próxima com a natureza e aprender sobre alimentação sustentável.

Biodiversidade

Hortas urbanas ajudam, ainda, a preservar a biodiversidade local ao atrair polinizadores como abelhas e borboletas, essenciais para o equilíbrio ambiental. As plantas também melhoram a qualidade do ar, pois absorvem dióxido de carbono e outros poluentes. Ou seja: só benefícios. 

Inspire-se: exemplos de hortas comunitárias

Pelos seus inúmeros benefícios, as hortas urbanas têm se tornado cada vez mais populares. Elas não apenas oferecem acesso a alimentos mais saudáveis, cultivados de maneira sustentável, como também fortalecem o senso de comunidade, incentivando a colaboração entre os moradores e transformando a relação com os bairros e cidades em que vivemos.

A cidade de São Paulo, por exemplo, conta com 158 hortas urbanas, disponíveis para todos os moradores, de acordo com a Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente. Iniciativas semelhantes estão florescendo em diversas localidades, servindo como exemplos de projetos que ajudam a transformar o ambiente urbano e fortalecem o senso de propriedade coletiva. Conheça algumas delas:

  1. Horta das Corujas (São Paulo, SP): localizada na Praça Dolores Ibarruri, conhecida como Praça das Corujas, essa horta comunitária de 800 m² é fruto do coletivo Hortelões Urbanos. O espaço é aberto à comunidade e organiza atividades educativas, incluindo oficinas sobre Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs), meliponário, plantas medicinais e compostagem. A gestão é feita via um grupo de discussão no Facebook, onde os interessados podem se informar e participar.
  2. Horta Comunitária de Manguinhos (Rio de Janeiro, RJ): situada na zona norte do Rio, essa é a maior horta urbana da América Latina, cuja colheita impacta mensalmente mais de 800 famílias. A iniciativa faz parte do projeto Hortas Cariocas, que oferece auxílio financeiro aos cuidadores do espaço, além de fornecer sementes, ferramentas e insumos. A horta ocupa um terreno que antes era uma cracolândia.
  3. Horta da Lomba do Pinheiro (Porto Alegre, RS): criada em 2005 através do Orçamento Participativo, essa horta comunitária de 7.000 m² produz alimentos para os moradores locais, incluindo fitoterápicos. A partir de 2014, o projeto adquiriu um caráter educativo, com parcerias entre escolas, universidades e órgãos públicos, oferecendo oficinas e atividades para a comunidade. A horta é mantida por moradores do bairro Lomba do Pinheiro.
  4. Horta Comunitária de Sete Lagoas (Sete Lagoas, MG): criada em 1982, essa iniciativa conta com sete hortas localizadas sob linhas de transmissão de energia. São cultivados alimentos como alface, cenoura e abóbora, gerando renda para cerca de 320 famílias, com mais de 2.500 beneficiários indiretos. Os produtos são vendidos diretamente nas hortas, em mercados locais, feiras e também por delivery.

Como montar sua própria horta

Seja em pequenos vasos, jardineiras ou até em canteiros maiores, você pode adaptar o cultivo ao seu ambiente e escolher os alimentos ideais para cada tipo de espaço.

Plantas de crescimento rápido, como rabanete, alface e espinafre, são ótimas para começar, pois podem ser colhidas em poucas semanas. Plantas maiores, como repolho e berinjela, requerem mais tempo e espaço. Já espécies como tomate e feijão podem ser penduradas em suportes, aproveitando o espaço vertical e otimizando áreas menores.

Ervas e temperos, como manjericão, hortelã, salsinha e alecrim, são perfeitos para pequenos recipientes e garantem frescor no preparo das refeições. Além disso, incluir plantas para chás, como camomila, capim-limão, erva-cidreira e hortelã, pode trazer benefícios à saúde, como ajudar na digestão, aliviar a ansiedade e promover relaxamento.

Que tal começar sua própria horta? Aqui estão algumas dicas.

#1 Horta de temperos nas janelas do apartamento

Transformar a janela do apartamento em uma mini horta é uma excelente forma de cultivar temperos frescos. Utilize jardineiras ou vasos pequenos, preferencialmente com furos na base para garantir a drenagem adequada. Temperos como manjericão, salsinha, cebolinha, coentro, orégano, alecrim e até mini pimentinhas podem ser plantados em conjunto em uma jardineira de vinil sintético, por exemplo. 

Para isso:

  • Escolha um local com incidência de luz solar direta por, pelo menos, 4 horas ao dia. A maioria das ervas e vegetais precisa dessa quantidade de luz para crescer bem.
  • Certifique-se de usar uma terra rica em nutrientes e esponjosa, para permitir a entrada de oxigênio e manter a umidade do solo. Isso garante um ambiente propício para o crescimento saudável das plantas.
  • Ao plantar, faça buracos grandes e acomode os brotos com cuidado para evitar danificar as raízes, pressionando suavemente o substrato ao redor da planta e regando logo em seguida.

O que é possível cultivar em um apartamento pequeno? 

  • Hortelã: plante uma muda em cada vaso, pois suas raízes se expandem mais do que outras ervas.
  • Salsinha: desenvolve-se melhor quando plantada sozinha, já que possui raízes mais profundas.
  • Orégano e tomilho: ervas fáceis de cultivar, adaptam-se bem a vasos pequenos e crescem rapidamente.
  • Pimentas como biquinho e dedo-de-moça: são ideais para hortas em apartamentos, acrescentando um toque especial às suas receitas e enfeitando a casa.
  • Você pode incluir frutas como morangos, que crescem em cascata e ficam ótimos em vasos suspensos, ou hortaliças como alface baby, que cabem em vasos de todos os tamanhos. Para quem quer ir além, cultivar couve-manteiga também é uma opção viável, já que ela se adapta bem a espaços reduzidos e é fácil de manter.

#2 Horta no quintal (mesmo que ele seja pequeno)

Aproveite qualquer espaço disponível no quintal, seja em canteiros ou vasos, para cultivar alface, rúcula, tomates e até morangos. 

Uma maneira eficiente de organizar o plantio é dividir um metro quadrado em 16 partes iguais, plantando diferentes ervas e hortaliças em cada uma. Para otimizar o espaço e garantir que todas as plantas recebam luz solar, posicione as espécies maiores na parte de trás e as menores na frente.

Plantas que crescem verticalmente, como os tomates, podem ser suportadas por estruturas simples, como tubos de PVC ou ferro reutilizados. Essa organização facilita a manutenção, permitindo que você regue, plante e colha sem grandes esforços. A rotação de culturas ocorre naturalmente, pois as plantas de crescimento rápido são colhidas antes que as maiores precisem de mais espaço.

#3 Horta na praça do bairro

Organize sua comunidade, condomínio, escola ou associação de bairro para criar uma horta comunitária onde todos possam participar, plantar e colher os frutos desse projeto coletivo. Além de promover a saúde e a integração social, uma horta comunitária revitaliza o espaço público e incentiva a sustentabilidade.

  • Converse com a comunidade: mostre aos vizinhos os benefícios de uma horta comunitária, como alimentos frescos e o impacto positivo na saúde. Visitar outras hortas comunitárias pode ser uma boa forma de trocar experiências.
  • Encontre o espaço ideal: escolha um local ensolarado, plano e acessível. Pode ser um cantinho inutilizado de uma praça, terreno, parque ou escola, que pode servir como núcleo do projeto. 
  • Conte com apoio:  procure a autorização da prefeitura e da Secretaria do Meio Ambiente local para o uso do espaço público. Em algumas cidades, iniciativas como essa são incentivadas como parte da preservação de áreas públicas. Prefeituras e ONGs podem fornecer sementes, ferramentas e orientação. 

Ao reunir a comunidade, diversifique o plantio e explore técnicas sustentáveis, como a compostagem caseira. 

Por fim, monte um cronograma para a manutenção da horta e organize mutirões para plantar, regar e colher. Incentive a participação das crianças para que elas também aprendam sobre a importância dos alimentos frescos e saudáveis.

À medida que sua horta cresce, ela pode atrair visitantes, alguns benéficos e outros prejudiciais. Os pulgões são uma ameaça, enquanto as joaninhas ajudam a controlá-los, pois se alimentam deles. As abelhas são fundamentais para a polinização, essencial para o desenvolvimento de muitos frutos.

Além de controlar pragas e incentivar polinizadores, é importante estar atento às melhores épocas do ano para cultivar cada vegetal. Respeitar a sazonalidade resulta em colheitas mais abundantes e práticas agrícolas sustentáveis. A rotação de culturas é uma estratégia eficaz para reduzir pragas, proteger o solo e promover a diversidade, minimizando a necessidade de agrotóxicos.

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